3.4.10

Ajudando mães a amamentar

Dificuldade na lactação é comum e ter auxílio profissional evita desmame precoce. Campanhas de incentivo ao aleitamento materno costumam mostrar mulheres que sorriem tranquilas enquanto alimentam seu bebê.

Dezessete dias após dar à luz a filha Larissa, a administradora Yuri Nakagawa consegue se identificar com a cena - o que lhe parecia improvável há menos de uma semana. "Pensava que amamentar era algo natural e intuitivo, como encaixar um plugue na tomada", diz Yuri. "Ainda na maternidade, colocava Larissa no peito e achava que ela estava mamando, até que uma enfermeira disse que ela, na verdade, sugava a própria língua."
Depois de chegar em casa com fissuras nos dois mamilos e passar três noites em claro, chorando de dor a cada mamada e preocupada com a filha que já mostrava sinais de desidratação, Yuri seguiu o conselho de um pediatra e procurou uma consultora de lactação.

"Quando ela me disse que com a pega correta não sentiria dor, mesmo com o peito machucado, não acreditei. Primeiro ela se preocupou em alimentar minha filha e depois em me ensinar como fazê-lo. Após 40 minutos mamando, Larissa parecia embriagada, pela primeira vez ela estava realmente saciada", conta.

O treinamento continuou por mais de uma semana, até que Yuri se sentisse segura para alimentar a filha. "Fizemos exercícios para ensinar Larissa a posicionar a língua. Tive de aprender a forma certa de segurá-la no colo e de colocar o bico em sua boca. Precisei me familiarizar com os barulhos e movimentos que indicam a pega correta. Não é nada intuitivo", diz.

Dificuldades no início do aleitamento são comuns e a forma como os profissionais de saúde lidam com elas é fundamental para evitar o desmame precoce, afirma Luciano Santiago, da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Mas treinar a pega correta, ensinar a mãe a ordenhar são tarefas que demandam um tempo que a maioria dos enfermeiros e pediatras das maternidades não têm", complementa.

A enfermeira Miriam Leal conta que aprendeu muito pouco sobre técnicas de amamentação na faculdade. "Só fui procurar cursos sobre o assunto depois que não consegui amamentar meu primeiro filho", revela.

Há 20 anos ela começou a atuar como consultora de lactação por acaso. "Via as mães que eu atendia na maternidade enfrentar os mesmo problemas que eu tive. Uma delas me perguntou quanto eu cobrava para ir até sua casa ajudar. Nunca tinha pensado nisso, mas ela insistiu e eu fui." Hoje Miriam atende cerca de 120 mulheres ao ano.

A enfermeira afirma que a maior parte dos problemas surge por dificuldades dos bebês. "Alguns não sabem nem procurar o peito. Outros não conseguem coordenar sucção, respiração e deglutição. Às vezes o bebê já nasce atleta, mas a maioria para no meio da mamada por exaustão e acorda com fome uma hora depois. Se a mãe não for bem orientada, tende a achar que seu leite é fraco", diz.

Natural do sertão de Alagoas, Josefa Maria da Fonseca hoje trabalha como consultora de lactação em São José dos Campos, a 90 km da capital. "Foi horrível amamentar meu primeiro filho. Eu gritava de dor. Meu marido chegou a comprar uma lata de leite em pó, mas minha mãe a tirou de minha mão e disse que se ela havia amamentado nove filhos então eu tinha de aguentar. Depois calejava. Mas eu não me conformava que era assim", conta.

A experiência acumulada nos cursos e nos anos de atendimento às gestantes da rede pública lhe mostraram que sua intuição estava certa. É possível amamentar com prazer.

"Lembro de uma paciente que me procurou chorando e me mostrou os seios cheios de feridas. Ao lado, a mãe dizia que era assim mesmo. Quando eu coloquei o bebê para mamar corretamente, ela gritou: "não dói, não dói". Em seguida chorou, mas desta vez de alegria."

Os serviços de uma especialista em amamentação custam cerca de R$ 200 por consulta. Mas diversas ONGs no País oferecem esse tipo de aconselhamento de forma gratuita. Os bancos de leite humano também costumam ajudar as mulheres que os procuram.


Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100228/not_imp517269,0.php
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