Todos nós – alguns mais, outros menos – sempre estamos em busca de nossos ideais. Desde pequenos sonhamos, criamos expectativas e construímos planos. Alguns são reavaliados; outros podem se perder ao longo do tempo. Sempre que um sonho é alcançado, já estamos na espera daquele que ainda não foi realizado. Não sonhar, projetar um futuro, pode ser sinal de que a vida psíquica não vai muito bem.
Porém, ao longo de nossa trajetória, o que é esperado muitas vezes não se concretiza. Entre ideal e real podem surgir frustrações, decepções, imprevistos e até situações indesejáveis que precisamos, aos poucos, aceitar e aprender a lidar.
Assim é com a maternidade e a paternidade. Independente de como ela aconteça, vamos desde muito cedo construindo a ideia e um modelo do que é ser pai e ser mãe a partir de nossas próprias experiências com o que tivemos e não tivemos enquanto filhos. Quem nunca se imaginou como pai e mãe ou sonhou (mesmo acordado) com a imagem de seus filhos? Desde os traços físicos até a personalidade, os projetamos conforme nossos sonhos e expectativas.
Mais perto ou mais distante destes anseios, aquilo que almejamos pode ser tornar, em alguns casos, irreal e desleal. Quantos pais se sentem frustrados ou até mesmo impotentes diante de comportamentos não esperados por parte de seus filhos – mentiras, birras, agressões, envolvimento com pessoas ou situações que julgam “erradas”, etc. Quando se cria os ideais, não se mensura ou cogita aquilo que não cabe dentro de nosso desejo. Eis a questão.
Muitos pais podem apresentar dificuldade em enxergar seus filhos como realmente são, criando uma imagem de perfeição colada apenas em seus desejos, desconectados de uma realidade e de uma identidade que se forma. Pais que gostariam que seus filhos tocassem algum instrumento musical ou jogassem futebol como craques e se deparam com filhos “pernas de pau” e sem interesse musical. Mas, filhos também têm ideais e, muitas vezes, esperam dos pais algo que estes não podem lhe dar. Filhos que desejam que seus pais fossem mais companheiros, participativos e que os ouvissem mais.
Este conflito entre realidade e desejo pode levar a alguns desencontros e desgastes que interferem no relacionamento entre pais e filhos. Os projetos ansiosamente esperados podem se tornar pesados para os pais (ou apenas um deles) que fazem de tudo para que o filho cumpra com o que desejam e, por outro lado, para os filhos que deixam de ser e fazer o que precisam ou querem para realizar o sonho dos pais, abrindo, em algumas situações, mão de seus próprios sonhos e até mesmo de sua identidade. Um risco para sua saúde psíquica, uma vez que seus projetos de vida não foram traçados por si próprios.
Quando pais almejam e projetam a maternidade e a paternidade, seus sonhos os movem a realizar aquilo que acreditam que é ser pai e ser mãe (além do conceito do que é uma família e os valores que a envolve). Ao mesmo tempo, quando nascem os filhos, estes vão construindo seus sonhos conforme suas motivações individuais, podendo ou não refletir a expectativa dos pais. Nessa dança, é importante que haja respeito mútuo às singularidades sem perder o espaço e os sonhos em comum que unem pais e filhos.
Fonte: http://ninguemcrescesozinho.com/2013/11/18/relacao-pais-e-filhos-um-vinculo-moldado-por-expectativas-e-ideais/
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