23.10.13


"Creio que a mãe poderá obter muito se pensar que todas as coisas que faz em virtude do seu amor pelo seu bebê entram nele tal qual a comida". 


Donald W. Winnicott  - Pediatra e Psicanalista

:)


(Na foto: Eu e meu filho lindo Enzo com 11 meses - Julho 2013)

8.10.13

Linguagem, significação e comunicação em bebês

O ser humano é um “ser da linguagem”. Desde o nascimento, e muito antes de aprender a falar, já é capaz de dialogar e de negociar com parceiros – sejam eles adultos ou outros bebês – por meio de olhares, gestos, posturas, vocalizações e outros recursos próprios da idade. Todo o seu corpo é meio de apreensão, expressão e significação.
A análise é da especialista em Psicologia do Desenvolvimento Humano Kátia de Souza Amorim, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), ligada à Universidade de São Paulo (USP). A pesquisadora coordenou um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP, cujo objetivo foi investigar se e como ocorriam processos de significação e de linguagem nos dois primeiros anos de vida.
Amorim coordenou também outra pesquisa outra pesquisa sobre corporeidade e significação em processos desenvolvimentais no primeiro ano de vida.
“Usualmente, tem-se a ideia de que os bebês apenas dormem e mamam e, quando se expressam, tudo não passa de uma descarga emocional. Mas nossos estudos mostram que, na verdade, os bebês desde muito cedo já são capazes de se expressar de maneira culturalmente adequada”, disse Amorim.
“Isso não quer dizer que eles entendam os significados das palavras pela cognição, pelo intelecto, mas apreendem seu significado nas relações, dentro do ambiente. Por meio de recursos particulares, percebem o meio e agem sobre ele, sendo capazes de dialogar com o outro, mesmo que em um diálogo mudo”, afirmou.
Para chegar a essas conclusões, a pesquisadora e seus colaboradores acompanharam cerca de 40 crianças com até 13 meses em diferentes relações e contextos: casa, creche e instituição de acolhimento (abrigo). A interação dos bebês com familiares, cuidadores e com outras crianças, inclusive pares de idade, foi gravada e posteriormente analisada pelos cientistas.
“O trabalho começou no âmbito de um Projeto Temático coordenado pela professora Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, da FFCLRP. Na época, acompanhamos um grupo de 21 crianças que tinham acabado de ingressar na creche mantida pela USP, no campus de Ribeirão Preto. Nosso objetivo era estudar o processo de adaptação dos bebês no ambiente da educação coletiva”, disse Amorim.
Nesse período, foram realizadas cerca de três horas de gravações diárias mostrando a interação dos bebês com as mães, educadoras e com as outras crianças. Como os pesquisadores observaram indícios de processos de interação e de comunicação mesmo entre os próprios bebês, foram conduzidas outras pesquisas e construídos os demais bancos de dados e imagens.
“Pudemos observar claramente que os bebês eram capazes de se expressar e, de alguma maneira, compreender o que se passava no entorno. Então, levantamos uma série de questões para estudar a comunicação e a significação antes da aquisição da linguagem oral”, disse Amorim.
Dentro das competências comunicativas, acrescentou a pesquisadora, a emoção serve de diálogo sem palavra, representando uma forma de comunicação que abrange todo o corpo do bebê e não apenas o rosto e a voz. Essa emoção muito precocemente passa a ser carregada de intencionalidade, sendo dirigida aos parceiros, com aumento, diminuição e substituição de sinais e tons, além de transformações nos estilos e manifestações.
“Se o choro fosse apenas uma descarga emocional, os bebês agiriam com todos da mesma forma. Mas observamos que eles não choram e não sorriem para todo mundo de maneira igual”, comentou Amorim.
Segundo a pesquisadora, a análise dos vídeos mostra que, embora os bebês tenham uma relação preferencial com a mãe, também constroem ligações com outras pessoas – tanto adultos como pares de idade – presentes no contexto. E as relações se dão de forma bastante diferenciada.
“Se há duas educadoras ou duas crianças, por exemplo, o bebê chega a claramente demonstrar preferência por uma delas. Não só interage mais com ela, como os recursos comunicativos são diversos, sendo usados com mais ou menos frequência, além de mudarem com o tempo e as diferentes situações”, disse.
“Para nós, isso foi surpreendente, pois mostra o grau de refinamento das habilidades nas relações e a riqueza de competências comunicativas do bebê. De alguma maneira o bebê diferencia não apenas o parceiro como apresenta também formas diversas de se comunicar com ele”, avaliou Amorim.
Interação de crianças
De acordo com a pesquisadora da FFCLRP-USP, muitos gestos que hoje em dia são considerados como automáticos ou naturais – decorrentes de maturação biológica – evidenciaram ser, na verdade, construídos nas relações com os parceiros, servindo na regulação do comportamento do outro, constituindo o diálogo com o interlocutor.
Nessas relações e comunicação, em que há troca de significados, verificou-se que há participação ativa da criança, apesar de ela não ser capaz de fazer uso das palavras.
Os comportamentos enunciam problemas, que são dirigidos a alguém e inclusive chegam a antecipar uma possível resposta, desde muito precocemente. O gesto tem ainda uma forma diretamente relacionada à ação no mundo de onde deriva, construindo papéis e formas de ser e de estar no mundo.
O tema é controverso, segundo Amorim, pois para a maioria dos autores a linguagem está relacionada à internalização de signos e à aquisição da fala. Em função disso, muitas pesquisas sobre a linguagem e a comunicação de crianças, segundo Amorim, centra seu foco em faixas etárias acima do final do primeiro ano de vida.
“Porém, reconhecer as competências desde o nascimento permite que se veja o bebê para muito além daquilo que ele virá a ser – adulto oralizado –, destacando o que ele já é”, avaliou.
Na opinião da pesquisadora, os resultados do estudo podem contribuir para reflexões sobre a forma como familiares, educadores e demais profissionais compreendem os bebês e como organizam a vida e as relações com a criança, por exemplo, nas creches. Para Amorim, é preciso favorecer ainda mais o encontro e a interação das crianças com seus pares de idade.
“Temos enviado material de divulgação da pesquisa para congressos, creches, cursos de pedagogia e demais profissionais que trabalham com desenvolvimento infantil. Muitos professores se incomodam com o fato de terem de lidar com bebês. Dizem que não se formaram para trocar fraldas. Mas se houver a compreensão de que, na verdade, quando trocam a fralda estão ensinando, aprendendo e se relacionando com alguém que já é capaz de se comunicar, tudo muda”, avaliou Amorim.

Disponível​ em: http://agencia.fapesp.br/17980

4.10.13

Maternidade Responsável - um enfoque psicanalítico sobre a função materna

Pertence à mulher uma das tarefas mais importantes de uma sociedade: gerar outro ser humano. Segundo a Psicanálise, essa é, porém, apenas uma parte do dever materno, que se inicia na gestação do bebê e se estende à segunda infância da criança - aproximadamente aos 5 anos de idade.

Winnicott (1896–1971) conceitua como maternagem os cuidados dispensados ao bebê pela mãe ou cuidadora deste. Segundo o autor, o bebê não existe sozinho – ele é parte de uma relação, que, além de abrangê-lo, engloba sua cuidadora. Esta deverá criar um ambiente facilitador para que o desenvolvimento psíquico da criança seja saudável.

Todos os fatos que ocorrem no período de vida intra-uterina e também o trauma do nascimento são registrados inconscientemente pelo sujeito que está sendo gerado. Por exemplo, o feto pode vir a sofrer frente à angústia ou ansiedade da mãe e tentar, como mecanismo de defesa, diminuir esse sofrimento através de movimentações hiperativas de seu corpo ou de diminuição de suas atividades motoras. Essas vivências intra-uterinas influenciarão sua personalidade e seus comportamentos na vida pós-natal.  

Após o nascimento, a relação mãe-bebê é de dependência absoluta: o recém-nascido precisa de sua cuidadora para alimentá-lo, para vesti-lo, para nomear suas sensações e os objetos de seu mundo externo. Esse vínculo forma o alicerce para o seu desenvolvimento psíquico, fazendo com que seu frágil ego seja amparado pelo ego materno e se fortaleça.

É a partir da organização psíquica desenvolvida nessa relação, que o bebê conquistará sua capacidade de se relacionar. A qualidade do amor materno– e não a quantidade – determinará, portanto, a qualidade de todas as relações do indivíduo quando ele se desligar da mãe: amor em excesso e possessivo pode gerar dependência, insegurança e incapacidade desse sujeito em lidar com frustrações. Negligência e rejeição podem, por outro lado, provocar sérias angústias, necessidade exagerada de amor e sentimentos de agressividade, culpa e depressão.

Segundo Neumann, “Existem mães cuja genuína capacidade de amar é subdesenvolvida, atrofiada ou envenenada e que, como compensação de sua anti-realização, arremessam-se sobre seus filhos não para lhes dar excesso de amor, mas para preencher seu próprio vazio através do filho”. A mãe que vê o filho como única saída para dar vazão a seus sentimentos pode, por exemplo, mimá-lo excessivamente e, muitas vezes, impedir seu crescimento, por medo de que se torne independente dela. Em contrapartida, a gravidez na adolescência, a gravidez indesejada ou a visão de que os cuidados com os filhos são uma árdua tarefa e cerceiam sua liberdade são algumas das possíveis razões para a negligência materna.

A maternidade responsável, portanto, deve proporcionar ao feto e, posteriormente, ao bebê um vínculo afetivo sadio, garantindo a satisfação de suas necessidades fisiológicas e afetivas. Deve também evoluir para um processo gradual de independência emocional, que gerará confiança na criança e facilitará seu crescimento psíquico, para que possa, posteriormente, suportar-se sozinha e evoluir para a maturidade e autonomia. 

Fernanda A. Linhares Guimarães

Psicóloga – CRP:06/9059
Rua Arnaldo Ricardo Monteiro, 71
São José dos Campos-SP
tel:12-39414392
fernanda.algs@hotmail.com
http://fernandalguimaraes.blogspot.com