5.7.14

O desenvolvimento neurológico saudável depende de amor, carinho e outros estímulos

Será que você sabe como para garantir que seu filho desenvolva plenamente seu potencial? Isso começa cedo, antes mesmo do nascimento! Para nossa sorte, a ciência já apontou algumas lições, e uma delas é que o estímulo correto desde cedo garante às crianças melhores resultados na escola, melhor sociabilidade e até mais saúde ao longo da vida.

Tudo começa com o cérebro. Já no primeiro mês de gestação começa a se formar esse órgão que controla tudo o que somos, pensamos e sentimos. Ele se modifica e se adapta a partir dos estímulos que recebemos. Quando vemos uma imagem, ouvimos uma música ou interagimos com alguém, por exemplo, milhares de conexões estão sendo feitas no nosso cérebro para receber essas informações, interpretá-las e responder a elas. Esse exercício cerebral fortalece as conexões entre os neurônios, fazendo com que o cérebro se aperfeiçoe ao longo do tempo.

Os cientistas mostraram que essa adaptação e evolução são constantes- é por isso que sempre podemos aprender coisas novas -, mas é nos primeiros anos de vida que o cérebro se desenvolve mais intensamente. É por isso que esse período é frequentemente chamado pelos neurocientistas "janela de aprendizado" ou "período crítico".

Para que o cérebro alcance seu potencial, pais devem oferecer estímulos e experiências diferentes, desde cedo. "Quando os bebês são deixados sozinhos sem interação com os objetos e pessoas, eles não exercitam a capacidade que possuem", alerta a professora Leda Maffioletti, da Faculdade de Educação da UFRGS. A psicopedagoga e especialista em neurofisiologia humana Marta Relvas concorda: "Um ambiente rico em oportunidades, vivências e experiências é crucial para garantir um bom desenvolvimento cerebral", diz.

Durante muito tempo, acreditou-se que o cérebro era incapaz de se regenerar, sendo fixo e apenas definido pela carga genética herdada dos pais. Mas o avanço da neurociência mostrou que ele é maleável. A partir de experiências, percepções, ações e comportamentos, o cérebro é capaz de se modificar, de se adaptar e de se transformar.

Cada cérebro vem, sim, programado individualmente, por meio de fatores genéticos, porém o que garante o desenvolvimento desse órgão é um ambiente rico em oportunidades, vivências e experiências. "A relação que o ser humano estabelece com o meio externo modifica o cérebro, permitindo constantes adaptação e aprendizagem ao longo da vida", explica a psicopedagoga, autora do livro "Fundamentos Biológicos da Educação", Marta Relvas.

É nos primeiros anos de vida que grande parte das células cerebrais, os neurônios, são produzidos e conectados a partir das experiências do bebê em seu entorno. "Todo o desenvolvimento e aprendizagem começa na infância, pois é a fase em que a maioria das conexões neurais são formadas, fortalecidas e consolidadas", afirma Marta Relvas, psicopedagoga e autora do livro "Fundamentos Biológicos da Educação".

O estímulo é importante porque as redes de neurônios se fortalecem por meio do uso repetitivo. As redes que não forem solicitadas a partir dos estímulos recebidos do ambiente vão desaparecendo. É como se algumas habilidades e competências ficassem adormecidas. É por isso que esquecemos várias informações aprendidas na escola, porque não usamos.

É como se as conexões formadas na infância fossem uma base para que circuitos mais complexos sejam construídos mais tarde. "A qualidade desses estímulos é fundamental para garantir uma aprendizagem saudável e de excelência", explica Marta, que também é especialista em Neurofisiologia Humana.

A falta de estímulos adequados prejudica seriamente o desenvolvimento dos bebês. "Quando são deixados sozinhos sem interação com os objetos e pessoas, os bebês não desenvolvem o interesse em aprender; não exercitam a capacidade que possuem; não se tornam crianças curiosas e, num caso extremo, sequer aprende a falar", alerta a professora da Faculdade de Educação UFRGS Leda Maffioletti.

"Estimular significa criar situações, contextos e oportunidades para que as crianças tomem iniciativas e tenham prazer em explorar o mundo. Movimento, formas, cores, sons e cheiros dão vida ao ambiente. Mas, acima de tudo, o ambiente estimulador deve ter pessoas que interagem com os bebês", explica Leda Maffioletti, professora da Faculdade de Educação da UFRGS.

Quanto mais diversos forem os estímulos, melhor para o cérebro do bebê: "Ouvir música com ritmos e intensidades diferentes, visualizar um objeto diversificados com cores diferentes, permitir tocar em diferentes texturas, essa riqueza promove uma intensa formação de novas conexões neurais", diz a psicopedagoga Marta Relvas.

Vale lembrar que os estímulos devem englobar não só o movimento (engatinhar, equilibrar-se, andar, sentar, ter reflexo, manter postura, pegar, lançar) e os sentidos (visuais, auditivos, táteis, olfativos e gustativos), mas também a cognição (pensamento, percepção, atenção, memória, imaginação, racíocínio etc). A maneira mais indicada de estimular bebês e crianças são atividades lúdicas, como o brincar e a música.

É tentador começar a estimular o bebê de todos os jeitos e maneiras, afinal, se o desenvolvimento do cérebro depende de diferentes experiências, quanto mais vivências, melhor, certo? Não é bem assim! "O desenvolvimento e o fortalecimento das conexões neurais estão relacionados à qualidade e não à quantidade dos estímulos", alerta Marta Relvas, psicopedagoga e autora do livro "Fundamentos Biológicos da Educação".

De nada adianta estimular o bebê se ele não for capaz de responder de maneira saudável. A especialista orienta a verificar até quando o bebê responde aos estímulos de forma prazerosa. Se ele se mostrar irritadiço ou estressado, é hora de pegar mais leve. Aliás, o estresse precoce é assunto sério. Diversos estudos mostraram que a exposição prolongada a situações de estresse agudo, sem o apoio de um adulto, como abuso e violência, ela sentirá os efeitos físicos, psicológicos e neurológicos durante toda a sua vida. É o chamado estresse tóxico, capaz de reduzir o número de conexões entre neurônios - o que prejudica seriamente o desenvolvimento saudável da criança.

A brincadeira talvez seja a maneira mais eficaz de as crianças aprenderem habilidades para o resto da vida. Jogos, músicas e outras atividades lúdicas contribuem para que as crianças cresçam com qualidade na saúde mental, emocional e física. "Brincar, além de agradável, é necessário para formar conexões sociais normais, e para ativar área de recompensa e de tomada de decisões", explica a psicopedagoga Marta Relvas. Nas brincadeiras infantis, as crianças simulam a vida futura, testam limites e determinam o que é seguro e o que é perigoso.

O brinquedo deve ser entendido como um suporte para a interação entre pais e bebês, não o substituto. "O brinquedo mais interessante do mundo não substitui a necessidade de afeto e cuidado", explica Leda Maffioletti, professora da Faculdade de Educação UFRGS.

Os bebês procuram avidamente conhecer o mundo, mas dependem das escolhas dos adultos para se desenvolverem. "Quando os adultos são negligentes, o bebê deixa de ter experiências significativas", diz.


Fonte: Vida Prematura

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