16/02/2017

Maylu Souza - Violência Obstétrica





Maylu Souza, Enfermeira Especialista em Obstetrícia e Graduanda em Psicologia, relata sobre a importância do cuidado psicológico entre a gestação e o pós-parto, com o propósito de orientar a mulher e ajudá-la em quaisquer intercorrências.

Vídeo gravado para a página " Violência Obstétrica - O Livro "

Para saber mais acesse: facebook.com/violenciaobstetricalivro

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02/02/2017

Por que as crianças estão cada vez mais infelizes?

Especialistas em saúde infantil chamam a atenção para uma epidemia silenciosa que afeta a saúde mental das crianças que, ainda pequenas, precisam lidar com as pressões da sociedade moderna


Uma em cada onze crianças com mais de oito anos de idade está infeliz, segundo um estudo divulgado em janeiro deste ano pela Children’s Society, organização centenária de proteção infantil. Apesar de a pesquisa trazer à tona uma realidade das crianças entre 8 e 16 anos do Reino Unido, especialistas brasileiros em saúde infantil afirmam que esse não é um problema exclusivo das crianças britânicas. No Brasil, a realidade é parecida. Ana Maria Escobar, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, conduziu uma pesquisa com os pais de cerca de 900 crianças de 5 a 9 anos que estudavam em escolas particulares e estaduais.
De acordo com os resultados do estudo, os pais disseram que 22,7% das crianças apresentavam ansiedade; 25,9% tinham problemas de atenção e 21,7% problemas de comportamento. "No início do estudo, esperava encontrar queixas como asma, mas não ansiedade", diz Ana. Apenas 8% tinham problemas respiratórios e 6,9% eram portadoras de asma. O estudo foi concluído em 2005, mas Ana Maria acredita que se a pesquisa fosse feita hoje, "os níveis de ansiedade e de problemas de comportamento certamente seriam ainda mais altos."
Mais do que infelizes, as crianças brasileiras também estão ansiosas, estressadas, deprimidas e sobrecarregadas. "Elas estão desconfortáveis com a infância. Esse desconforto aparece de várias formas: como irritabilidade, desatenção, tristeza e falta de ânimo. Muitas vezes, é um comportamento incomum em relação à idade delas", diz Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Saul Cypel, membro do departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria, traz dados preocupantes: "A impressão que eu tenho é a de que o número de crianças com queixas comportamentais cresceu muito nesses últimos dez anos." Neste período, segundo Cypel, houve uma transformação do perfil da clínica: se antes as queixas sobre o comportamento infantil correspondiam a 20% dos pacientes, agora são responsáveis por 85% do total de seu consultório de neurologia.
Com uma agenda recheada de atividades extracurriculares, que vão desde aulas de idiomas como inglês e mandarim até as aulas clássicas como balé e futebol, as crianças estão sem tempo para se divertir e descansar, acreditam os médicos. Segundo Cypel, a antecipação de atividades para as quais o indivíduo não está preparado pode desencadear o stress tóxico, que ocorre quando há uma estimulação constante do sistema de resposta ao stress (veja quadro abaixo), trazendo prejuízos futuros para as crianças.
"A família introduz uma série de treinamentos, atividades e línguas novas. Na medida em que a criança não consegue dar conta disso, a sensação de fracasso se torna frequente", explica Cypel. "Com o stress tóxico, ao invés de favorecer o desenvolvimento da criança, os pais acabam limitando-a e desmotivando-a." Entre as consequências diretas estão a diminuição da autoestima, alterações alimentares (excesso ou falta de apetite), problemas de sono e apatia.
No início deste ano, a Academia Americana de Pediatria lançou um documento que chama a atenção para as evidências de impactos negativos do stress tóxico, com prejuízos posteriores para a aprendizagem, comportamento, desenvolvimento físico e mental. O relatório também sugere que parte dos problemas mentais que ocorrem nos adultos devem ser vistas como transtornos de desenvolvimento que tiveram início na infância.
Ana Maria Escobar acrescenta que a exposição à realidade violenta do Brasil também pode contribuir para uma sensação de ansiedade nas crianças. "Antes, raramente uma criança ouvia falar de um ato de violência. Hoje, elas ficam mais confinadas e têm medo de assaltos e sequestros. Isso com certeza provoca maior stress e ansiedade, além de maior possibilidade de se sentir infeliz, principalmente entre aquelas que vivem nas grandes cidades brasileiras", diz..
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Sinais — O problema é agravado pelo fato de que muitos pais demoram a perceber o que se passa com seus filhos. "Eles acham que o comportamento das crianças é normal", diz Ana Maria Escobar. Além disso, a dificuldade em administrar o tempo que dedicam à vida profissional e aos filhos muitas vezes impede que os pais percebam os sinais de que algo está errado.
"Muitos pais priorizam a profissão e terceirizam a criação dos filhos. Mas é preciso se questionar: quanto tempo eu passo com meus filhos? Quem são as pessoas que estão criando eles?", afirma o psiquiatra Francisco Assumpção, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.
Essa é uma preocupação constante na vida da publicitária Flora*, que tem dois filhos, Cecília* e Celso*, de 7 e 9 anos, respectivamente. As crianças, que estudam em período integral na escola, têm uma rotina bastante atribulada. Celso faz aula de inglês, futebol, tênis e deve começar a aprender uma luta neste ano. Cecília também faz inglês, natação e deve começar a praticar ginástica olímpica. "Primeiro, experimentamos uma aula de inglês uma vez por semana, depois colocamos os dois em um esporte", afirma. "Tem que sentir muito como a criança está lidando com isso. Observar o comportamento para ver se ela está cansada e se o rendimento na escola começa a diminuir", diz. Flora se preocupou em contratar uma professora de inglês para que as crianças tivessem aulas em casa. Para ela, é melhor opção para evitar o stress desnecessário no trânsito.
Apesar da preocupação, Flora fez alterações na rotina de Cecília. A pequena começou a apresentar sinais de stress. Para descobrir o problema, Flora foi investigar com a filha e percebeu que a natação estava causando o problema. "Ela chorava muito e quando acordava dizia que não queria ir para a escola. Estava diferente do que ela é normalmente", disse. Flora tirou a filha da natação no ano passado, mas ela já pediu para voltar esse ano, segundo a mãe, que vai observar o desempenho da criança.

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Quando é depressão – De acordo com Ivete Gattás, da Unifesp, a depressão afeta 2% das crianças e até 5% dos adolescentes. Sabe-se ainda que a depressão na infância e na adolescência pode influenciar negativamente o desenvolvimento e o desempenho escolar, além de aumentar o risco de abuso de substâncias químicas e de suicídio.
Somente 50% dos adolescentes com depressão recebem o diagnóstico antes de se tornarem adultos. Gattás explica que o transtorno depressivo pode surgir a partir de vários fatores: predisposição genética e associação de fatores ambientais, que podem ser desencadeados pelo stress do dia a dia, sensação de vulnerabilidade, restrição ao desempenho da criança e sobrecarrega de atividades. (Veja a lista de sintomas). "Para caracterizar depressão, a criança deve apresentar mais de cinco sintomas, durante um mês", afirma Gattás.
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Terapia — Estudos já mostraram que a ansiedade durante a infância, se não contornada, pode se transformar em depressão durante a vida adulta. Por isso é necessário prevenir qualquer sintoma, mesmo que ele não seja o suficiente para o diagnóstico da depressão. (Veja como evitar o stress infantil.)
Carla*, de oito anos, começou a ter problemas aos cinco. Em seus desenhos, ela sempre aparecia chorando, enquanto suas amigas sorriam. “Ela é muito preocupada com a imagem que os outros têm dela. Se ela percebe que não corresponde ao que os outros esperam, ela se chateia muito”, diz a arquiteta Patrícia*, mãe de Carla.
“Tentamos conversar com ela, mas ela não revelava o que estava acontecendo. Descobri que as crianças na escola faziam um clubinho e que a Carla era sempre excluída”, diz Patrícia. O problema foi solucionado com a troca de sala. A pediatra de Carla indicou um especialista em saúde mental, para prevenir e ajudar a garota a entender a própria ansiedade. Há três anos, ela faz análise uma vez por semana. “Às vezes, ela me pergunta o que eu acho sobre determinado assunto e eu fico em dúvida sobre o que responder. E ela diz: ‘já sei, vou levar isso pra analista’”, conta a mãe.
Para Gattás, o pediatra deve ser treinado na área de saúde mental para diagnosticar problemas da infância e adolescência. “Ele acompanha a criança durante o crescimento e tem uma importância fundamental na orientação dos pais”, diz. “Se não houver uma mudança na forma como os pais lidam com seus filhos, vamos ver um aumento da frequência dos quadros psiquiátricos, mas transtornos de ansiedade e falta de perspectivas para as novas gerações”, diz Assumpção.
*Os nomes das mães e das crianças utilizados nesta reportagem foram trocados com o objetivo de preservar a privacidade dos personagens

As 'mães tigres' estão certas?

Com criação autoritária, crianças orientais não têm a oportunidade de errar
As filhas de Amy Chua, professora de Direito da Universidade de Yale e descendente de chineses, não podem dormir na casa das amigas ou ter um namorado. Elas também estão proibidas de assistir televisão ou de jogar videogame e sabem que vão receber castigos pesados se tirarem uma nota menor que 10 — a mãe abre uma generosa exceção para ginástica e atuação. Foi isso que escreveu Amy em um controverso artigo intitulado Por que as Mães Chinesas São Superiores publicado no início do ano passado na edição online do Wall Street Journal.
Amy é conhecida como o que se convencionou chamar de 'mães tigres', defensoras de um modelo de criação autoritário e punitivo. Depois do lançamento do livro Grito de Guerra da Mãe Tigre (Editora Intrinseca, tradução de Adalgisa Campos da Silva, 240 páginas, R$ 29,90), Amy participou de programas de TV nos Estados Unidos e foi capa da revista Time, onde defendeu seu modo de criar os filhos.
No livro, ela mostra que o perfeccionismo é regra. Incentivar resultados medíocres e se preocupar com a autoestima dos filhos são comportamentos totalmente fora do padrão de criação linha dura que ela considera ideal. Ela não hesita em chamar sua filha mais velha de "lixo". Amy obriga suas filhas a aprender piano ou violino. Certa vez, ela forçou a filha mais nova, de sete anos, a tocar piano sem intervalos para tomar água ou ir ao banheiro até que ela aprendesse a tocar determinada música.
A crença de que é preciso exigir muito para atingir o máximo do potencial costuma ser mais comum em culturas orientais, mas também pode acontecer entre jamaicanos, irlandeses ou americanos, segundo Amy. A única exigência para se encaixar no perfil de mãe tigre é ser exigente.
Pesquisas já mostraram que estudantes asiáticos que cursam o ensino médio passam mais tempo estudando e fazendo lições de casa do que os jovens de outras culturas. Toda essa cobrança, no entanto, pode apresentar resultados trágicos. A China está entre os dez países com as maiores taxas de suicídio do mundo, com 22 mortes por 100.000 pessoas. Lá, uma pessoa tenta tirar a própria vida a cada dois minutos, segundo dados do governo chinês.
Desiree Baolian Qin, que também é chinesa e professora do Departamento de Estudos do Desenvolvimento Humano e Familiar, da Universidade Estadual do Michigan, realizou um estudo mostrando que as crianças chinesas também precisam ser felizes. A pesquisa, publicada em janeiro deste ano no Journal of Adolescence, foi realizada com 487 estudantes.
Os resultados mostraram que os chineses tinham mais problemas com os pais com assuntos relacionados aos estudos do que os outros. Além disso, os estudantes chineses eram mais depressivos, ansiosos e apresentaram maior taxa de baixa autoestima do que os estudantes ocidentais. Bom para os estudos, o modelo autoritário não é benéfico para a saúde mental das crianças.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/por-que-as-criancas-estao-cada-vez-mais-infelizes

14/11/2016

Palestrando sobre Câncer de Mama no Núcleo Cuidar

Outubro já passou mas precisamos falar sobre Câncer de Mama o ano todo! Palestrei no Núcleo Cuidar (Itabuna-BA) sobre esse tema tão importante! Obrigada Profa. MS Ana Cristina Barros pelo convite!

23/08/2016

Maylu Souza - Violência Obstétrica



Maylu Souza, Enfermeira Obstetra, Graduanda em Psicologia e Psicanalista em Formação, relata sobre a importância do cuidado psicológico entre a gestação e o pós-parto, com o propósito de orientar a mulher e ajudá-la em quaisquer intercorrências.
Vídeo gravado para a página " Violência Obstétrica - O Livro "
Para saber mais acesse: facebook.com/violenciaobstetricalivro
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09/09/2015


"Ser carregadas, embaladas, acariciadas, tocadas, massageadas, cada uma dessas coisas é alimento para as crianças pequenas. Tão indispensáveis, se não mais, que vitaminas, sais minerais e proteínas. Quando são privadas de tudo isso e do cheiro e do calor e da voz que tão bem conhecem, as crianças, ainda que estejam fartas de leite, se deixam morrer de fome." 
(Frederic Leboyer)

12/08/2015

Psicologia Obstétrica


O que faz um(a) psicólogo(a) obstétrico(a)?

Psicólogos Obstétricos têm como objetivo trabalhar questões emocionais de gestantes e familiares durante o ciclo gravídico-puerperal, auxiliando a todos os envolvidos a viverem esse período de uma maneira mais saudável e melhor.


Por que o(a) psicólogo(a) obstétrico(a) é importante?
Toda gestação é marcada por intensos momentos de ansiedade, angústia, mudanças de humor, medos, felicidades, dúvidas, e muitos outros sentimentos por parte da gestante e dos familiares. Todos esses sentimentos podem ser difíceis de administrar quando aparecem ao mesmo tempo ou quando todos na família estão envolvidos na mesma questão. Um exemplo muito comum de como isso ocorre, é quando a gestante está muito ansiosa por causa de um exame e quer o apoio do marido, mas este, por sua vez também está com muito medo e não consegue dar o apoio que ela necessita. Essa situação pode deixar ambos ainda mais ansiosos pela falta de ajuda do outro ou pode até gerar problemas conjugais, dependendo de como o casal estava antes da gestação e como lida atualmente com suas questões.

Além disso, a gestação é um período cheio de mudanças e isso exige esforços grandes ou pequenos para a chegada do novo bebê. Nenhuma mudança é fácil de ser feita, mesmo quando o motivo é muito bom! Há mudanças corporais, na casa, na organização e dinâmica da família, na parte financeira, etc.

As mudanças são muitas e lidar com todas elas ao mesmo tempo não é nada fácil! Podemos dizer que a gravidez é um momento de crise porque desorganiza uma dinâmica preexistente e exige uma nova organização.

As dificuldades em lidar com a gestação ou com assuntos que estão ligados indiretamente a ela, como por exemplo, problemas no casamento, são muito comuns e muitas vezes precisam do auxílio de um psicólogo obstétrico para lidar melhor com as situações que emergem nesse período.


Como o(a) psicólogo(a) obstétrico(a) trabalha essas questões emergentes do período gestacional e puerpério?
Há várias formas de se trabalhar essas questões. Pode-se realizar atendimentos psicológicos individuais com a gestante ou familiares, atendimentos psicológicos em grupo (com o grupo familiar ou fazendo grupos psicoeducativos de várias gestantes e seus acompanhantes),relaxamento, treino de parto vaginal, dessensibilização de cesárea, massagens, repiração abdominal, orientação do casal em relação aos filhos mais velhos e orientação dos avós do bebê que está por vir.

Durante todo o processo de Pré-Natal Psicológico foca-se trabalhar as angústias, a ansiedade e a consciência corporal. Ao trabalhar esses três aspectos, possibilita-se que a gestante tenha uma postura ativa durante a sua gestação, auxiliando num desenrolar mais saudável do processo. Além disso, auxilia no manejo de situações específicas e emergentes da gestação dentro do seu contexto social e familiar.

Após esse período de gestação, com a chegada do bebê, a psicologia obstétrica trabalha com o chamado “quarto trimestre” mais conhecido como puerpério, em que a mulher passa por uma transição ficando mais sensível, apresentando muitas vezes certa ansiedade e uma depressão reativa, que necessitam ser acompanhadas, para evitar uma depressão pós-parto e/ou psicose puerperal.

Nesse período são trabalhados também os aspectos relacionados a amamentação e o vínculo materno-filial que começa a ser construído.

É importante ressaltar que o psicólogo obstétrico nunca trabalha sozinho, muitas vezes as necessidades de um acompanhamento psicológico são diagnosticadas pelo médico obstetra, enfermeira e familiares que estão próximos e notam o pedido de auxílio da gestante e puérpera.

Elisangela Batista Secco
Psicóloga Obstétrica

05/08/2015

Um olhar psicológico sobre o aleitamento materno

Amamentar é um ato natural, reconhecido como a melhor forma de alimentar, proteger e amar uma criança, suprindo todas as necessidades do bebê nos primeiros meses de vida, para um crescimento e desenvolvimento sadio.



O termo amamentação se difere do aleitamento materno, pois de acordo com Rego (2008, p.11): “O conceito da amamentação é o ato da mãe dar o peito diretamente para o bebê mamar e o aleitamento materno é o meio pelo qual a criança recebe o leite de sua mãe.” Seja através da mama, pelo copinho ou até mesmo pela mamadeira.

Mas a amamentação vai muito além destes conceitos, pois além de propiciar, pelo leite materno, a melhor fonte de nutrição para os lactentes e a proteção contra diversas doenças agudas e crônicas, também possibilita um melhor desenvolvimento psicológico.

A amamentação não é apenas uma técnica alimentar: é muito mais do que a simples passagem do leite de um organismo para o outro, ainda que diretamente ao seio. Ela é um rico processo de entrosamento entre dois indivíduos um que amamenta e o outro que é amamentado.

No entanto, muitos são os fatores que afetam o modo como as mulheres alimentam seus filhos e o tempo durante o qual os amamentam. Isso ocorre porque sua prática tem sofrido variações ao longo dos anos, devido aos fatores familiares, biológicos, psicológicos e socioculturais.

Se hoje comemoramos o dia internacional do aleitamento materno é porque houve, ao longo dos tempos, uma grande mudança de cultura, pois a história nem sempre valorizou esse ato, pelo contrário...

Se recuarmos um pouco na história podemos verificar que a questão do aleitamento materno tem vindo a ser entendida de diversas formas ao longo dos tempos. Durante muitos e muitos anos era indecoroso, nomeadamente nas classes mais abastadas, que as mães criassem os seus filhos, e estava fora de questão a sua amamentação. Até aos finais do século passado, em muitos países europeus, o aleitamento materno estava e permaneceu a cargo de amas-de-leite. O termo ama de leite pode ser entendido como: “A mulher que amamenta criança alheia quando a mãe natural está impossibilitada de fazê-lo.” Geralmente esse encargo era dado às escravas que já tinham filhos, não sendo frequente a amamentação ao peito da própria mãe. Já os romanos filósofos e moralistas, condenavam o aleitamento exercido pelas amas de leite, pois eles acreditavam que: “[...] o vínculo entre a criança e a ama de leite prejudicava a relação entre a criança e a mãe natural.”

Hoje em dia esta situação já não ocorre, mas continuam a existir fatores, quer sociais, quer psicológicos, para alguma ocorrência de aleitamento artificial. Então, percebe-se que, apesar de a amamentação ser uma escolha individual, ela se desenvolve dentro de um contexto sociocultural, portanto influenciada pela sociedade e pelas condições de vida da mulher.

A amamentação é muito importante, tanto como fonte de nutrição para o bebê, quanto pela transferência de imunidade que a mãe oferece a partir do colostro. Os aspectos psíquicos e emocionais do binômio também recebem ênfase especial, pois durante o aleitamento materno se estabelece a cumplicidade e o vínculo afetivo entre ambos.

Apesar de a criança sentir necessidade física de leite, sua necessidade emocional é igualmente forte, por isso precisa do contato com a mãe, de tranquilidade e de amor, recebidos enquanto mama.

Do ponto de vista emocional, amamentar traz inúmeras vantagens, pois, a interação rica entre mãe e filho proporciona uma mútua satisfação. A ligação forte entre ambos, o contato íntimo da pele e o olhar permitem que sintam um enorme prazer neste ato. Este contato possibilita que o amor vá aumentando a cada mamada, construindo uma base sólida, vinculando para sempre mãe e filho. As crianças privilegiadas por este contato precoce com suas mães após o parto são menos ansiosas e mais tranquilas, sofrendo menos estresse causado pela separação do corpo materno.

Na verdade, o contato físico para o bebê é um estímulo agradável, que por ser uma necessidade biológica e vital, permite que ele alcance mais plenamente suas potencialidades. Porém, o início da formação deste vínculo não começa no parto. Ele começa já durante a gravidez.

Assim sendo, faz-se necessário deixar que mãe e bebê se reconheçam, pois, um sistema de comunicação equilibrado entre ambos é que vai orientar e facilitar a relação da mãe com a criança e a consequente formação do vínculo, que vai se solidificando no desenrolar desta interação.

A amamentação é um direito adquirido pela mãe. Dar de mamar depende da sua escolha e de algumas questões culturais que envolvem a família, o marido e até fatores estéticos. Algumas mulheres se adaptam à nova rotina, outras não. Isso acontece porque, apesar de ser um ato natural na teoria, na prática o processo pode ser bem mais difícil.

As dificuldades e o possível fracasso serão maiores quanto menor for a preparação e conscientização da futura mãe no período pré-natal. Se, por falta de oportunidades da mãe interagir com seu filho, o estabelecimento do vínculo e apego for prejudicado, pode gerar desordens no relacionamento futuro de ambos.

Há sistemas neuroquímicos, como os da ocitocina e vasopressina, desenvolvidos no cérebro da criança, que operam em sintonia com o afeto materno, reforçando o equilíbrio emocional ou gerando agressividade e outros comportamentos sociais. São sistemas sensíveis aos cuidados com a criança durante os primeiros anos de vida. Seus efeitos dependem do vínculo afetivo que se estabelece entre a mãe, a criança, o pai e a família como primeiro grupo social.

Pelo exposto acima percebe-se que, quando essa vinculação afetiva não acontece na infância é muito provável que tenhamos um adulto incapaz de vincular-se nos grupos sociais, com facilidade para o descontrole das emoções, caminhando para a agressividade. Por isso, incentivar o vínculo afetivo na idade adequada é um direito fundamental do ser humano, pois é ele vai garantir suas relações estáveis e seu equilíbrio emocional. E a intimidade física da prática de amamentar dispensa os obstáculos que possam existir de forma tal que nenhum outro esforço consciente por parte da mãe consegue igualar.



Sendo assim, o que dizer da mãe quando por motivos diversos se vê impossibilitada de amamentar? Como fica sua imagem de boa maternagem? Abre-se aí um hiato entre a maternidade e a amamentação, sendo necessário analisar todos os aspectos subjetivos e emocionais, advindos da prática interrompida, já que esta pode trazer sérias consequências psicológicas para o binômio.

Importante reforçar que durante a nutrição do bebê pela mamadeira deve-se ter como elemento mais importante as condições para que se estabeleça uma relação de cumplicidade satisfatória entre a dupla, para que assim também ocorra um desenvolvimento satisfatório do bebê.

O apego ao filho não nasce repentinamente e nem sempre será instintivo ligar-se a ele. Este vínculo se estabelece continuamente e os bebês contribuem efetivamente para que ele ocorra

desde as primeiras horas após o parto. O elo afetivo formado será imprescindível para o desenvolvimento infantil e sua falta pode prejudicar a criança. Desta forma, um bebê que não foi amamentado ao seio, não será necessariamente infeliz, considerando que, mãe e filho, podem desfrutar de sensações incríveis de amor e confiança de outra forma.

Porém, é inegável que uma amamentação eficiente desperta na mulher um sentimento de ligação mais profunda com o filho e de realização como mulher e mãe. No entanto, qualquer nutriz pode ter experiências boas e agradáveis, ao mesmo tempo em que, difíceis e cansativas.

Podemos aferir desta observação que para ser boa mãe não há a obrigatoriedade do aleitar, salvo se a mulher assim o queira. Não existe, portanto, qualquer impedimento para que mulheres que não amamentem não sejam encorajadas a dar atenção e amor ao seu bebê. Além disso, nem sempre uma experiência bem sucedida de amamentação resulta num bebê satisfeito, se esta amamentação não resulta de uma verdadeira riqueza de experiência e de envolvimento.

O amor de mãe e filho é construído aos poucos a cada contato e que se este for um contato de qualidade, terá influências positivas na vida do bebê nos primeiros meses e futuramente também. Da mesma maneira que vai favorecer o relacionamento com outras pessoas no decorrer de sua vida e na sua capacidade de ser feliz.

A grande questão aqui discutida é como dar conta desta representação do mito da mãe perfeita para as mães impossibilitadas de amamentar? Como criar condições para que as mães possam amamentar com alegria e tranquilidade os seus filhos?

Quando existe a impossibilidade de amamentar, cabe à mãe achar suporte na família e naqueles que a cercam, uma vez que elas são levadas a acreditar que a amamentação além de ser um momento de grande importância para o binômio, também é fundamental para a construção da relação afetiva entre ambos. Atitudes desta natureza colaboram para que, este momento único, carregado de emoções e significados, seja conduzido de forma mais tranquila.

Da mesma maneira, o apoio do profissional de saúde será essencial, tendo em vista que, na dinâmica da alimentação, seja por aleitamento no peito ou por meio artificial, o profissional de saúde tem um papel importante na promoção dos recursos naturais e ambientais.


Fonte:
Ada Melo
Psicóloga
http://psiqueonlinee.blogspot.com.br